Recorde de distância do Porto da Cruz
Duarte Mendonça no Larano, Porto da Cruz no dia 21 de Abril 2024, próximo aos 1100m de altitude em direção à Penha D'Águia.
Um grupo de pilotos regionais juntou-se num voo de lazer a 21 de Abril de 2024.
As condições eram previsão de vento nor-nordeste e tecto térmico cerca dos 1200 m.
Inicialmente estavam a prever voar desde o Fanal mas de manhã as nuvens estavam mais baixas que o pretendido. Então alteraram o plano para voar no Porto da Cruz.
Lá tinha vento adequado para descolar da zona da Praia da Maiata, pelo que começaram a descolar cerca das 12.00h.
Ganharam altitude no Larano, usando a dinâmica do vento ir contra a encosta e ser obrigado a subir. Chama-se a isto ascendência dinâmica, ou por abuso de linguagem, subir "no dinâmico".
Desta forma puderam descolar dos 30m de altitude e subiram até cerca dos 1000m de altitude.
Daí fizeram a transição para a Penha D'Águia, contra o vento.
A ilha provoca um desvio do vento meteorológico. O vento alinha com a costa e faz com que a direção do vento localmente seja de noroeste.
Uma vez na Penha D'Águia foi aproveitar para ganhar mais alguns metros de altitude e permitir melhores condições para a grande decisão. Voltar ou tentar de passar para Santana?
A passagem para Santana é um feito realizado por poucos pilotos até à data, e por bons motivos.
É uma transição com pouco mais de 3 km desde a Penha D'Águia, normalmente a contra vento. Em caso de não conseguir realizar a travessia tem 3 hipóteses:
- Abortar com altitude suficiente para chegar ao Porto da Cruz
- Tentar subir na Penha D'Aguia para voltar a tentar ou para ter altitude para voltar ao pouso seguro do Porto da Cruz
- Aterrar no Faial (pista de karting ou ringue de patinagem de velocidade).
As opções de aterragem no Faial são muito exigentes por terem pouco espaço e haver muitos obstáculos físicos, que provocam turbulência próximo ao chão. No vale da ribeira o vento afunila e acelera. Não são uma opção fácil para quem não tenha a experiência e capacidade de manobrar a asa com muita precisão e reflexos treinados.
Do grupo, o Duarte Correia e o Duarte Mendonça conseguiram fazer a transição. Ambos à segunda tentativa desde a Penha D'Aguia. O Duarte Correia passou primeiro, com 5 minutos de avanço.
Começaram com 740m na Penha D'Águia e chegaram à encosta de Santana com 380m.
Já em Santana voltaram a ter suporte da encosta através da ascendência dinâmica do vento. O Duarte Correia conseguiu recuperar para os 600m. Já o Duarte Mendonça ficou sempre mais baixo, pelos 400m de altitude até ao farol de São Jorge. Mas pelo menos não descia.
Continuaram a ter algum vento de frente até ao Farol de São Jorge.
Por um lado ir contra o vento nesta secção dificulta o progresso, por outro lado era um indicador que as encostas a partir de São Jorge teriam alguma ascendência dinâmica, pois a orientação desta zona de costa tem melhor ângulo para o vento existente naquele momento. Iria facilitar a tarefa de fazer esta parte do percurso.
Assim foi. Progrediram com relativa facilidade até à encosta do Arco de São Jorge, que tem uma forma côncava. Esta particularidade faz com que exista sempre uma secção que fique de frente para o vento do quadrante norte que ali estiver a chegar. Aqui ganharam altitude até aos cerca de 900m e seguiram para Ponta Delgada, com São Vicente também já garantido com esta altitude.
O Mendonça foi recuperando tempo e alcançou o Correia nas proximidades da Ponta Delgada.
Depois de São Vicente foi possível continuar com algum apoio da ascendente dinâmica chegar até à zona do Seixal.
E ali subir junto ao Chão da Ribeira até à base da nuvem e ficar à altitude do Fanal, cerca dos 1300m de altitude.
Aqui fizeram a inflexão no percurso. O Correia dirigiu-se para o campo municipal de São Vicente.
O Mendonça ainda tentou ir mais além. Foi até à 3ª Lombada de Ponta Delgada.
Teve de lidar com algum vento de frente e turbulência. Não seria fácil continuar a fazer o percurso de volta ao Porto da Cruz. Acabou por ir também para o campo municipal e assim ficarem juntos para a recolha.
Duarte Mendonça a chegar junto ao Duarte Correia, depois de aterrar
Fica o registo de um voo fantástico realizado por dois dos melhores pilotos da região na actualidade.
Algumas estatísticas:
- Cerca de 2h25m de voo
- Altitude máxima: 1302m
- Distância linear da descolagem ao ponto mais distante: 29.9 km.
- Velocidade média: ~30km/h
- Velocidade máxima: ~57 km/h
- Ascendência máxima: 3.7 m/s
Links para os voos:
Texto de Evandro Amaro
Fotografias de Duarte Correia, Duarte Mendonça, António Freitas